"Você vai se arrepender um dia. Por
que você nunca entende o que eu estou tentando dizer: são os seus seis sentidos
que o enganam e o fazem acreditar não só que você tem seis sentidos, mas que
por meio deles faz contato com um mundo externo e verdadeiro. Se não fossem os
seus olhos, você não me enxergaria. Se não fossem os seus ouvidos, você não
escutaria aquele avião. Se não fosse o seu nariz, você não sentiria o cheiro da
hortelã da meia-noite. Se não fossem as papilas gustativas da sua língua, você
não experimentaria a diferença entre A e B. Se não fosse o seu corpo, você não
sentiria Princess. Não haveria eu, nem avião, nem consciência, nem Princess,
nem nada, e pelamordedeus, você quer continuar sendo enganado todos os minutos
da sua vida?"
(Trecho de Os Vagabundos Iluminados, de Jack Kerouac p. 37)
Nessa entressafra eleitoral muito
tem se falado em mudança... Muitos também são os esboços de revoluções virtuais
facebookeanas, e coisa e tal... Mas será que essa ruma de gente está realmente
pronta ou disposta para tirá-las (a revolução e a mudança) do mundo virtual
(esse mundo aqui mesmo, que de certa forma emula o real, e assim também o é) e praticá-la de alguma maneira no mundo real? Já que é para fazer uso do mundo virtual (lá vou eu jogando nele
também), é sempre bom relembrar essa música que tem 44 anos, mas que continua
muito oportuna para pensar as situações que temos vivido (há bem mais que 44
anos).
Diretamente do White Album (ou simplesmente The Beatles), de 1968...
Revolution
You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world
You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world
But when you talk about destruction
Don't you know you can count me out
Don't you know it's gonna be
All right
You say you got a real solution
Well, you know
We'd all love to see the plan
You ask me for a contribution
Well you know
We're all doing what we can
But if you want money for people with minds that hate
All I can tell you is brother you have to wait
Don't you know it's gonna be
All right
You say you'll change the constitution
Well, you know
We'd all love to change your head
You tell me it's the institution
Well, you know
You'd better free your mind instead
But if you go carrying pictures of Chairman Mao
You ain't going to make it with anyone anyhow
Don't you know it's gonna be
All right
All right
Revolução
Você diz que você quer uma revolução
Bem, você sabe..
Todos nós queremos mudar o mundo
Você me diz que isso é uma evolução
Bem, você sabe
Todos nós queremos mudar o mundo
Mas quando você fala em destruição,
Você já sabe que não pode contar comigo
Não sabe que vai acabar tudo bem?
Tudo bem
tudo bem, tudo bem...
Você diz que você tem a solução real
Bem, você sabe..
Todos nós adoraríamos ver o plano
Você me pede uma contribuição
Bem, já sabe..
Todos nós fazemos o que podemos
Mas se você quer o dinheiro para pessoas que só tem ódio na mente
Tudo o que posso dizer, irmão, você vai ter que esperar
Assisti ontem a última seletiva da
etapa classificatória de Mostra de Bandas
Universitárias para o Festival UFC de Cultura. Tive boas surpresas nessa
noite. A banda Capotes Pretos na Terra do Marfim abriu a noite com uma apresentação
recheada de lirismo nos arranjos e letras de suas composições. Trombone, violoncelo,
teclado, entre outros instrumentos, ajudaram a compor a cozinha melódica tradicional
com violão, guitarra, baixo e bateria. A segunda apresentação da noite foi a da
cantora Lidia Maria. Outra grata
surpresa! Voz doce e suave, mas que de vez em quando nos brindava com uma potência
à lá femme fatale. Boas composições
as da cantora, e um destaque especial para a banda que a acompanhava. Um power trio
muito competente que ajudou a abrilhantar ainda mais sua apresentação .
E por falar em power trio, não posso deixar de comentar a terceira apresentação
da noite, dos Elephants. Foram
apresentados pelo produtor do evento com um release que misturava rock,
psicodelia, fusion, progressivo e outro “mói” de coisas. Fiquei desconfiado...
Mas quando eles começaram a tocar... Pronto! Eram uns caras bem novos, que
deviam ter no máximo uns vinte anos. Mas colocaram pra @#$% com seu som
instrumental. De longe, na minha modesta opinião, foi o show com mais energia da
noite. Os caras agitavam, batiam cabeça, iam de um lado a outro do palco, e o principal, estavam curtindo pra valer!.
Rock and roll baby!!! A quarta banda da noite foi do grupo Galáctico Papa. Muitas peripécias sonoras numa apresentação marcada pelo bom
humor e pelas presepadas dos integrantes. Depois vieram os “Selvagens a
procura da lei”. Eles foram os últimos da noite a tocar na seletiva. Não
conhecia a banda, mas quando eles subiram ao palco o apresentador os anunciou
falando que vinham de uma série se apresentações de sucesso em várias cidades
do país, incluindo uma no prêmio Multishow de Música, e uma indicação de aposta no Video Music Brasil da MTV. Fiquei me perguntando
realmente se eles deveriam estar participando de uma seletiva como essa, que
intenta privilegiar bandas que estão começando. Mas vá lá... Eles de um jeito
ou de outro, também tem se projetado de uns tempos para cá. Deixe estar. Fizeram
uma boa apresentação. E ponto. A proposta da seletiva era que cada grupo ou
artista apresentasse 3 músicas, que junto com a performance geral da
apresentação, seriam avaliados por um corpo de jurados.Pois bem... os “Selvagens” parece que não
entenderam bem a proposta. Atropelaram uma música atrás da outra, e no fim das
contas apresentaram 5 canções. Tenha paciência! Um dos produtores do evento se
aproximou do vocalista para avisar que eles estavam extrapolando o tempo, mas
foi mesmo que nada. O camarada fez que nem ouviu. Realmente, muito “selvagem”
essa postura deles. Ainda mais depois de iniciar o show com um discurso pseudo-crítico
contra a Ordem dos Músicos, onde teve até carteirinha da instituição sendo
jogada para a plateia. Músico que quer ser valorizado, e não respeita o espaço
onde está tocando, as pessoas que ali estão, e ainda mais, seus próprios
companheiros músicos (que estavam participando de uma seleção tal qual eles), a
partir de falácia... não sei não... E houve tempos em que o rock and roll sabia
mesmo o que era transgressão.
George Harrison lançou dois
discos solo antes do fim dos Beatles, Wonderwall
Music, de1968, e Electronic
Sound,de1969. O
primeiro deles é a trilha sonora para o filme homônimo, e apresenta músicas
instrumentais marcadamente influenciadas pelo contato do então beatle com a musicalidade
hindu[1]. O
segundo disco, composto apenas por duas músicas, uma em cada lado, apresenta
tentativas de experimentação musical de Harrison com o tecladista Bernie Krause [2].
Em 1970, após a dissolução dos Beatles, Harrison lança All Things Must Pass, álbum triplo (o primeiro álbum triplo da história
do rock). Foi a oportunidade que o ex-beatle esperava para trazer à tona suas
composições que ficaram engavetadas durante os anos de sua antiga banda, e da
hegemonia da parceria Lennon/McCartney nas canções dos álbuns. E realmente é um
grande disco não apenas nas proporções, mas na riqueza das composições. Harrison
está completamente livre para apresentar ao público sua genialidade como
letrista e arranjador. De todas as músicas do álbum, destaco uma, que
justamente lhe dá nome All Things Must
Pass, e que justifica também o título desse texto. E realmente... bem que
poderia ser um mantra!
[1] A
cítara, por exemplo, é presença marcante
em várias faixas do álbum
[2]
Cujo nome não foi impresso na capa do disco original por insistência do próprio Krause.
Anos depois ele entraria com uma ação judicial contra Harrison alegando que o
lado/faixa 2 do álbum fora executado predominantemente por ele, demonstrando o orgão Moog II para o parceiro
Sunrise doesn't last all morning
A cloudburst doesn't last all day Seems my love is up and has left you with no warningIt's not always going to be this grey
All things must pass
All things must pass away
Sunset doesn't last all evening
A mind can blow those clouds away
After all this, my love is up and must be leaving
It's not always going to be this grey
All things must pass
All things must pass away
All things must pass
None of life's strings can last
So, I must be on my way
And face another day
Now the darkness only stays the night-time
In the morning it will fade away
Daylight is good at arriving at the right time
It's not always going to be this grey
All things must pass
All things must pass away
All things must pass
All things must pass away
O nascer do sol não dura a manhã toda
Um céu carregado de nuvens não dura o dia todo
Parece que meu amor está acabado e a deixou sem nenhum aviso
Não será sempre cinza assim
Tudo deve passar
Tudo deve ir embora
O por do sol não dura a tarde toda
Uma mente pode soprar essas nuvens pra longe
Depois disso, meu amor está acabado e deve ir embora
Não será sempre cinza assim
Tudo deve passar
Tudo deve ir embora
Tudo deve passar
Nada na vida pode durar pra sempre
Então, devo seguir meu caminho
E encarar um novo dia
A escuridão só fica durante a noite
De manhã vai desaparecer
A luz do dia é boa em chegar no momento certo
Não será sempre cinza assim
Tudo deve passar
Tudo deve ir embora
Tudo deve passar
Tudo deve ir embora
E não é apenas o ser humano que cria novas técnicas, mas essas técnicas também criam um novo homem, que constantemente é modificado, que fala e comunica novas línguas, que se confundem mesmo com a das máquinas. Um homem que não se “conecta” com os outros, que anda meio “desligado”, que parece estar ficando meio sem “energia”, como se estivesse “quebrado”. É que seus corpos agora parecem feitos de vidro, tanto por sua fragilidade, na eminência dos perigos de sua humanidade aos quais estão sujeitos, como por sua transparência, que parecem não abrigar mais nada, não ter nada mais de extraordinário a revelar. (p. 43) *Bebendo aí na experiência (na pobreza ou na destruição dela) de Benjamin e Agamben