segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Doente não come comida de verdade



Meu avô, Seu Geraldo, muito espirituoso que era, brincava até quando estava doente. Lembro bem das poucas vezes que o vi adoecer (inclusive das duas vezes mais fortes nos cânceres que o acometeram em 2000 e 2011). Uma de suas principais preocupações em ficar bom logo era para voltar a comer "comida de verdade". Não se satisfazia com as sopas ou chás com torradas  normalmente prescritos para os doentes no hospital. Queria voltar logo para casa, para comer o seu feijão com arroz e farinha. Era muito difícil alguma doença lhe tirar a fome. Ele era daquelas pessoas que só se davam por satisfeitas quando comiam até "topar", o que na linguagem dele significava comer até não conseguir mais e ter até que abrir o botão da calça para comportar a barriga. Lembro bem que em sua última internação na UTI ele estava sendo alimentado via sonda. Estávamos todos preocupados com o agravamento de seu quadro de saúde. Recebemos uma notícia que em algum tempo ele poderia voltar a se alimentar por via oral. Comentei com algumas pessoas: "Pronto, agora que o vovô vai comer comida de verdade ele vai ficar bom! Essa alimentação que ele vem comendo não dá sustância, não!". Infelizmente não deu tempo. O vovô partiu sem "topar" uma última vez. Quem sabe se ele comesse um feijãozinho com arroz...