Meu avô, Seu Geraldo, muito
espirituoso que era, brincava até quando estava doente. Lembro bem das poucas
vezes que o vi adoecer (inclusive das duas vezes mais fortes nos cânceres que o
acometeram em 2000 e 2011). Uma de suas principais preocupações em ficar bom
logo era para voltar a comer "comida de verdade". Não se satisfazia
com as sopas ou chás com torradas normalmente prescritos para os doentes no
hospital. Queria voltar logo para casa, para comer o seu feijão com arroz e
farinha. Era muito difícil alguma doença lhe tirar a fome. Ele era daquelas
pessoas que só se davam por satisfeitas quando comiam até "topar", o
que na linguagem dele significava comer até não conseguir mais e ter até que
abrir o botão da calça para comportar a barriga. Lembro bem que em sua última
internação na UTI ele estava sendo alimentado via sonda. Estávamos todos preocupados
com o agravamento de seu quadro de saúde. Recebemos uma notícia que em algum
tempo ele poderia voltar a se alimentar por via oral. Comentei com algumas
pessoas: "Pronto, agora que o vovô vai comer comida de verdade ele vai
ficar bom! Essa alimentação que ele vem comendo não dá sustância, não!".
Infelizmente não deu tempo. O vovô partiu sem "topar" uma última vez.
Quem sabe se ele comesse um feijãozinho com arroz...