segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Doente não come comida de verdade



Meu avô, Seu Geraldo, muito espirituoso que era, brincava até quando estava doente. Lembro bem das poucas vezes que o vi adoecer (inclusive das duas vezes mais fortes nos cânceres que o acometeram em 2000 e 2011). Uma de suas principais preocupações em ficar bom logo era para voltar a comer "comida de verdade". Não se satisfazia com as sopas ou chás com torradas  normalmente prescritos para os doentes no hospital. Queria voltar logo para casa, para comer o seu feijão com arroz e farinha. Era muito difícil alguma doença lhe tirar a fome. Ele era daquelas pessoas que só se davam por satisfeitas quando comiam até "topar", o que na linguagem dele significava comer até não conseguir mais e ter até que abrir o botão da calça para comportar a barriga. Lembro bem que em sua última internação na UTI ele estava sendo alimentado via sonda. Estávamos todos preocupados com o agravamento de seu quadro de saúde. Recebemos uma notícia que em algum tempo ele poderia voltar a se alimentar por via oral. Comentei com algumas pessoas: "Pronto, agora que o vovô vai comer comida de verdade ele vai ficar bom! Essa alimentação que ele vem comendo não dá sustância, não!". Infelizmente não deu tempo. O vovô partiu sem "topar" uma última vez. Quem sabe se ele comesse um feijãozinho com arroz...

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Metáfora de videogame para pensar o Brasil contemporâneo





Já faz um tempo que todos sabemos que o Brasil deu tilt! É que nem quando a gente tá jogando Mortal Kombat (o primeiro) e o inimigo fica só mandando a rasteira do Sub-Zero. Ou, em outros casos, é como jogar Street Fighter de rodoviária, você morre de soltar hadouken's e eles atravessam o oponente ou mudam de direção, enquanto o computador solta logo uns oito de uma vez na sua cara. O brasileiro, em geral, é o player que só se ferra e cai na besteira de gastar todas as suas fichas confiando na máquina, e o Estado e a Justiça são o bug eterno embaçando a vida do jogador.

sábado, 24 de junho de 2017

Conversa de Uber

Estávamos a bordo de um veículo Uber. Ao cruzarmos com três jovens rapazes com camisas estampadas passando ao lado do carro, o motorista dispara:
-Não é por nada não, mas o mundo tá muito gay...
Rapidamente pudemos respondê-lo:
-Mas que bom que está muito gay, Deveria era estar mais ainda. Se fosse assim a gente seria mais tolerante, respeitaria mais os outros e teria menos problemas.
Um silêncio de alguns segundos no veículo até ele se dar conta da @#$% que havia falado. Tentou consertar. Mas numa altura daquelas já não tinha mais jeito.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Lembranças capilares

Herdei a cabeleira encaracolada da minha avó Stela. Quando eu era pequeno (e mesmo depois de grande) ela costumava colocar minha cabeça em seu colo e ficava enrolando meu cabelo na ponta dos dedos. Essa é uma boa lembrança que guardo da minha avó. E esses caracóis que herdei dela me proporcionaram bons (e engraçados) momentos ao longo da vida. Eram eles que balançavam com minha guitarra (às vezes com o baixo) quando tocava com minha banda. Que me fizeram receber um convite para interpretar Jesus em uma peça na adolescência (que eu recusei, pois como ator sou um ótimo espectador). Foi por eles que me escolheram para ser a noiva (sim, a noiva) em uma festa de São João. Eram eles que causavam inveja em algumas amigas porque o meu cabelo era maior que o delas (De um jeito ou de outro eles não me ajudaram muito com as meninas, fazer o quê? Se bem que eu acho que a culpa podia ser da barba rs). Era com o cabelo entrançado que eu competia nos campeonatos de Kung Fu. Lembro na infância, quando eles estavam um pouco maiores, ou na adolescência quando comecei a deixar eles crescerem, que meu pai costumava me chamar de "pai da mata", e eu dizia que não queria cortar os cabelos de jeito nenhum. Por que eu estou falando de cabelo agora? Bom, hoje vi na rua uma meninazinha que muito devia ter uns 7 anos. E o que me chamou a atenção foi que com essa idade ela já tinha feito um alisamento desses "ultra-mega-power" em seus cabelos, tal qual mãe que estava ao seu lado. Tão criança e já estão colocando na cabeça dela que o bonito mesmo é ter os cabelos lisos, e não enrolados, encaracolados, crespos, ou de qualquer outro jeito.

Mãezinha, se sua filha ou filho tem os cabelos enroladinhos, não alise, estique, puxe, raspe (nem faça um moicano do Neymar)!!! Deixe ela ou ele ser feliz com seus caracóis!!!

*O texto é de 2011 e me apareceu hoje como lembrança no Facebook. Achei oportuno registrá-lo aqui para não perder de vista essa lembrança boa.
** Segue logo abaixo uma trilha sonora oportuna para ler (ou reler) essa postagem.





quinta-feira, 9 de março de 2017

O dia em que os Wolverines e o meu vício em entrevistas se encontraram...



Sou viciado em programas de entrevistas. Contraí esse vício em um dos muitos períodos que passei sem TV em casa. Nesses períodos a internet sempre foi a salvação do meu entretenimento doméstico e o YouTube fonte de gratas surpresas audiovisuais. Não sei nem em que momento exato comecei a fuçar o site atrás de entrevistas. Assistia uma, que apresentava o link para outra, e mais outra, e por aí ia. Quando me dei conta, boa parte do conteúdo da minha lista de preferências e sugestões era de entrevistas sobre os mais diversos assuntos. Dois deles em particular sempre foram alvo de minha predileção: música e cinema. Um dos programas que recentemente tem figurado bastante essas listas de indicações é o The Noite, do Danilo Gentili. Particularmente não gosto dele. Discordo de várias de suas opiniões e posicionamentos (sobretudo no âmbito político). Mas volta e meia assisto ao programa dele por interesse ou curiosidade em alguns dos entrevistados que dão as caras por lá. Hoje, em uma dessas muitas zapeadas randômicas pelo YouTube me deparei com a entrevista que o Danilo Gentili fez com o Hugh Jackman. Parei para assistir. Era uma dessas entrevistas que os atores concedem quando vão divulgar o lançamento dos seus filmes mais recentes. Geralmente elas seguem alguns protocolos meio óbvios. Essa não seguiu. O próprio ator se sentiu tocado com algumas gentilezas durante a entrevista e seus olhos se encheram de lágrimas em vários momentos. Ao final, o programa proporcionou o encontro entre Hugh Jackman e seu dublador brasileiro, Isaac Bardavid (que já atua como voz do Wolverine há 23 anos). Ambos estão vivendo seu momento de despedida do personagem. Ambos se emocionaram. Acho que até o apresentador, por ser fã de quadrinhos, deve ter se sentido tocado com a experiência que ali vivenciavam. Tanto, que foi uma das raras entrevistas em que ele deixou todas as suas escrotices e entradas chulas de lado. Um raro momento onde a sensibilidade e gentileza atravessaram o programa de forma emblemática. Me tocou.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Deu onda...



Hoje, estava andando aqui em Fortaleza nas imediações do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, quando vi uma galerinha jovem e descontraída na rua dançando a tal da música "Deu onda" (não a conhecia até então, e só descobri o título ao chegar em casa e fazer a velha consulta ao Google). Com a testa involuntariamente franzida, só me restou seguir em frente no meu percurso, ainda com interrogações sobre a movimentação. Alguns passos à frente, ao parar um pouco para prestar atenção na letra, fiquei momentaneamente impressionado e tive a sensação de que sou um velho antiquado e ultrapassado nos paranauês da vida. Era a versão explícita da música(como descobrira depois, onde trocam a figura paterna pelo órgão genital masculino, também conhecido como pênis).


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Fórmula precisa?!




Hoje ouvi duas vezes que não preciso de uma fórmula precisa. Em uma conversa que me alertou (e não foi a primeira vez) que não existe um jeito certo ou melhor de fazer as coisas, existe o jeito que a gente consegue. E logo em seguida na letra de uma música ouvida em altíssimo som no show do Jonnata Doll e os Garotos Solventes. Durante a execução da música eu ouvi bem forte no meu "pé do ouvido" a lembrança da conversa. A lembrança daquilo que justamente mais tenho dificuldade de me desprender.