terça-feira, 16 de agosto de 2016

Duas considerações olímpicas



 



1. A Rede Bobo de Televisão realmente possui uma incrível capacidade de (tentar) produzir antagonistas durante as provas. Os atletas são transformados em heróis e vilões para promover a espetacularização da cobertura. Dois exemplos são os mais emblemáticos. Um deles foi a "rivalidade" entre o norte-americano Justin Gatlin e o jamaicano Usain Bolt na prova de 100m do atletismo. Desde as entrevistas pré-olimpíadas o norte-americano era tratado como alguém frio, que não gostava de falar sobre o seu "rival", e volta e meia seus problemas com o doping eram trazido a tona nas chamadas. O outro caso, no salto com vara, representou uma das maiores vergonhas que a torcida brasileira proporcionou durante os jogos. Em uma prova de extrema concentração e precisão, o jeitinho brasileiro da torcida vaiou o antagonista francês Renaud Lavillenie, que ficou visivelmente abalado com tal atitude. No dia seguinte a cobertura televisiva só dava atenção a uma declaração pós-prova de um atleta frustrado e irritado que comparou a reação da torcida àquela destinada ao norte-americano Jesse Owens pelos alemães em 1936. O francês virou o vilão do momento e campeão de memes nas redes sociais. Ninguém sequer falou da torcida brasileira desrespeitosa e mal educada. Nenhum comentário sobre as lágrimas que escorriam pelo rosto Lavillenie durante a cerimônia de entrega das medalhas, onde foi colocado mais uma vez frente a frente com seu algoz (não, não foi o Thiago Braz), o torcedor brasileiro. Um dos momentos mais tristes dessa edição dos Jogos Olímpicos. Essa é, sem dúvida, uma vitória da qual o Brasil não deve se orgulhar: a fanfarra das vaias!

2. O que teve de atleta brasileiro batendo continência no recebimento de medalhas não tá no gibi.  As forças armadas criam um programa de contratação temporária para atletas de auto rendimento, pegam os atletas já prontos depois de uma vida e preparação, e querem colher os louros pelo apoio após a conquista de medalhas. Países como China, Russia e os EUA tem sim uma tradição de apoio das forças armadas na preparação de atletas nas mais diversas modalidades, inclusive em modalidades não-olímpicas. Mas o Brasil... Inventaram esse negócio um dia desses. O Programa Atletas de Alto Rendimento (Paar) foi criado em 2008. Em 8 anos não dá para formar uma geração de atletas de alto rendimento como a que competiu esse ano no Rio de Janeiro, ou mesmo como a que se apresentou em 2012 em Londres (4 anos após a fundação do Programa). Todos os atletas brasileiros, ao ingressarem nesse Programa, já estavam em alto rendimento. São contemplados após rigorosa seleção. Nunca existiu um trabalho de formação de base. A grande maioria desses atletas não é militar, e sim está militar. Me engana que eu gosto que não há intenções dissimulada por trás disso tudo para exaltar as forças armadas no clima de instabilidade política que o país vivência atualmente... Nunca houve destaque nenhum ao apoio das forças armadas brasileiras a atletas de atletas de alto rendimento (salvo nas provas de tiro olímpico). Milagrosamente essa hiper valorização acontece em 2016...