“É música de preto, pobre e favelado ... mas quando toca ... ninguém consegue ficar parado!” E foi o que aconteceu. A frase que iniciou esse texto foi proferida na segunda-feira, 29/11/2004, durante um show da cantora Fernanda Abreu, no famigerado festival Ceará Music. Ceará Music? Mas onde é que ela estava mesmo? Quem? A música... a música do Ceará. Mas não tem problema não. Olha o jeitinho dela dançar... Olha o jeitinho dela sambar... Olha o jeitinho dela suar....[1] Mas não foi só “ela” que dançou. Todos dançaram, ou melhor, quase todos. Este que vos fala entreteve-se mais com a reação das pessoas diante da música do quê com ela (a música) propriamente dita. Não que ela não fosse interessante aos meus ouvidos. Muito pelo contrário. Aquele funk-samba-rock foi a trilha sonora perfeita para minhas divagações. E os corpos balançaram. Corpos já cansados. A embriaguez que os tomava até um tempo atrás já não se fazia tão presente assim. O que os entorpecia e causava furor naquele momento era a música. E ela não penetrava apenas pelos ouvidos. Parecia invadir os corpos por toda a sua extensão. O suor. A brisa. O suor. O dia nascendo e a noite morrendo discretamente. A luz e a escuridão. O mar. Calor? Não, não havia. Apenas o suor. Olha o jeitinho dela dançar... Olha o jeitinho dela sambar... Olha o jeitinho dela suar.... Palavras...? Somente as minhas. E quanto à letra da música? Essa parecia não importar tanto assim. O que a boca pronunciava não passavam de ... gemidos... murmúrios... música... Palavras? O que elas tinham mesmo a dizer? Acho que alguma coisa do tipo: “-Hei, você aí parado, por quê não dança também?” Dançar? Não precisa. Olha o jeitinho dela dançar... Olha o jeitinho dela sambar... Olha o jeitinho dela suar.... E no fim?... Corpos cansados... Corpos suados... O prazer... O gozo. O dia. A ânsia por voltar para casa? Acho que não. A ânsia era por mais. Mais forças para continuar ali só mais alguns instantes. Por mais um pouco de prazer. O chão. O chão parecia muito convidativo naquela hora. Lugar onde os corpos se lançavam na esperança de conseguir um pouco de alívio. Mas não conseguiam. Passo. Passos. Passos. O mar quebrando nas pedras. A água escorrendo. Os casais escorrendo por entre os braços e abraços. As bocas não mais cantavam. Elas agora afagavam os rostos. E escorriam. Escorriam por outros rostos. Sem a voracidade que como outrora haviam se tocado. Acalmando. A alma. A calma. Calma. A saída. De novo o fim? Não. Ainda tinha gente querendo conferir o Ceará Music. A Favela queria conhecer o Ceará Music. Ela só queria provar um pouco daquilo tudo. E a Favela desceu. Mas o Ceará Music não queria conhecer a Favela. E aí foi um verdadeiro purgatório da beleza e do caos[2]. A Favela subiu. E mesmo assim ela resistiu. Como? Com pedras. As pedras desceram. E o Ceará Music recuou. E recuou. Para dentro do seu próprio mundo. À margem da Favela. Lá ele está bem seguro. Ao menos, assim o pensa. E a Favela? A Favela está
quarta-feira, 4 de junho de 2008
O Território da Arte
É um texto assim...meio antigo, sabe...?! Mas que talvez ainda tenha algo a dizer... Era mais ou menos assim...
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