FUI ASSALTADO no
dia 01 de abril, uma segunda feira, por volta das 20h10min bem próximo de minha
residência. Não, essa não é uma piada do dia da mentira. Estava sentado em uma
parada de ônibus quando um rapaz apontou-me uma pistola dando voz de assalto.
Poucos segundos antes ele havia passado por mim a pé, e quando menos espero ele
dá a volta e me aponta a arma. "Passa o celular!" Deu uma busca na
minha calça para ver se tinha algo. Como viu que não tinha bolsos começou a
puxar minha mochila (sempre ande com uma calça com bolsos para que isso não
aconteça!). Não é a primeira vez que sou assaltado. Já desenvolvi até certo
trato com ladrões. Sempre tento conversar com o "camarada" no intuito
de que ele me deixe os documentos. Dessa vez não funcionou. O “camarada” estava
afoito. E com uma pistola na mão. Não tem conversa. "Solta senão eu atiro!" E lá se vai
o "camarada" correndo, e entra em um Fiat Siena preto que o esperava
na esquina. Vai com minha mochila, dois
celulares antigos (desses que ninguém mais quer, mas ele quis. Afinal de contas
era o que ele queria quando disse: “Passa o celular!” Deve ter se arrependido
ao abria a mochila), minha carteira com RG, Carteira de Habilitação, cartão do
plano de saúde, passecard recém carregado, a quantia de R$ 70,00 em dinheiro, o
carregador da bateria da minha máquina fotográfica, duas camisinhas (espero que
ele use, pelo menos), duas canetas, uma lapiseira, um controle remoto (isso
mesmo), uma garrafa pet seca, minha pasta com relatórios, planejamento mensal e
frequência dos meus alunos de Tai Chi Chuan,
e um pequeno caderno onde faço minhas anotações do trabalho e do dia à dia. Quando vi o
"camarada" correndo com minhas coisas a primeira coisa que consegui
pensar foi: "ainda bem que tirei da mochila o chocolate que ganhei da Dona Estela”. A Dona Estela é uma das alunas que fazem Tai Chi Chuan comigo no
bairro Aerolândia. Uma senhora muito humilde
que tem por volta dos 70 anos. Ela é lavadeira de roupas, e trabalha
inclusive na casa de algumas de suas colegas de Tai Chi Chuan. É uma das alunas
mais assíduas de minha turma. Antes da páscoa ela havia dito que ia me dar um
presente. "Professor, depois eu
trago um chocolate pro senhor!" (apesar de ter idade para ser neto da
maioria de minhas alunas, muitas delas me chamam respeitosamente de
"senhor"). Falei que não precisava, que não se preocupasse com isso.
No já citado dia 01 de abril, pouco antes de iniciar minha aula pela manhã, ela
chegou próximo a mim e disse: "professor, trouxe um chocolatezim pro
senhor!" Ela presenteara a mim e a outra professora que trabalha comigo
com uma barra de chocolate do tipo meio amargo (que por sinal é um dos que mais
gosto). Fiquei muito tocado com o gesto singelo de sua parte. O dinheiro que
recebe com as lavagens de roupa deve ser muito pouco, e contado para as despesas
do mês, e ainda assim ela havia feito questão de nos presentear. Ao chegar em
casa naquele dia pela manhã, após o término de meu primeiro expediente de
trabalho, tirei meu presente (o chocolate) da mochila, e coloquei-o em cima de
um armário em casa. Ao chegar em casa a noite, após o assalto, uma das
primeiras coisas que vi ao entrar pela sala foi a barra de chocolate no mesmo
lugar onde havia deixado. Pensei novamente: "ainda bem que tirei da mochila o chocolate que ganhei da Dona Estela”. Repeti a frase para minha
namorada, que estava em casa comigo, abri a embalagem e comemos o chocolate,
que adoçou aquela noite tão tumultuada. Na manhã seguinte comentei com os
alunos sobre o ocorrido na noite anterior. Foi com muita indignação que
receberam a notícia, e ficaram preocupados inicialmente achando que havia sido
assaltado em sua comunidade, que carrega uma fama de violenta. Não foi. A Dª
Estela estava na aula àquela manhã. Ao me aproximar dela durante um dos
exercícios, tocada com a situação ela perguntou se estava tudo bem e falou: “Ôôô
professor, levaram seu chocolate?!”. Falei que havia sido justamente no
chocolate que pensara logo após o assalto, e que por uma feliz coincidência, o
seu presente foi o único item que tirara da mochila, antes de sair de casa
novamente para trabalhar. Ao narrar minha preocupação com seu presente ela me
presenteou novamente com um sorriso largo no rosto. E pensei denovo: "ainda bem que tirei da mochila o chocolate que ganhei da Dona Estela”. Acho que depois dessa posso
até repensar aquele antigo ditado que diz: “Vão-se os anéis, ficam-se os dedos.”.
No meu caso vai ser: “Vão-se os anéis, fica o chocolate!”.
*O nome da minha avó paterna também era Estela.A Dona Estela do Tai Chi Chuan lembra muito a vó Estela. Duas mulheres simples, de origem humilde, e muito atenciosas nos pequenos e nos grandes gestos.
*O nome da minha avó paterna também era Estela.A Dona Estela do Tai Chi Chuan lembra muito a vó Estela. Duas mulheres simples, de origem humilde, e muito atenciosas nos pequenos e nos grandes gestos.