segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Dharma dos Vagabundos*

Vocês pensam que não há nada de verdadeiro no que fazemos

Essas palavras talvez não tenham sentido para vocês
Ótimo então
Elas não têm muita importância
Parem de ouví-las

Talvez sejam essas roupas
A aparência
Elas parecem estranhas?
Falta de respeito?
Não há mesmo respeito no que você vê
O respeito não está no que você vê em nós
Então vamos apenas fechar os olhos

Vocês dizem que isso não cheira bem
Talvez seja apenas um perfume muito simples
E você precisa mais do que suas narinas para senti-lo

Não há nada de concreto aqui, vocês nos dizem
Algo palpável
Vocês sempre precisam de algo para tocar para poder acreditar
Pois comecem tocando em si mesmos, sem as mãos

E o que mais podemos dizer sobre isso...
Nada mesmo
Acho que já falamos demais
Então vamos apenas continuar caminhando

*A Doutrina dos Vagabundos

**Despretensiosamente inspirado no título do livro de Jean-Louis Lebris de Kerouac, e em outros vagabundos do Dharma que povoaram esse planeta na primeira metade do século passado

***Texto escrito em 27 de maio de 2012

Despedida do Vila União


No dia 25 de março de 2001, um domingo, mudávamos de nossa casa na Rua Eduardo Angelim 388 - Montese, onde passara 17 anos (e a maior parte da minha vida), para um novo endereço na Rua Professor Vicente Silveira 755 - Vila União. Nova casa, nova vizinhança, um novo trajeto de ir e vir para todos os cantos possíveis da cidade. Eis que troquei a bem servida rota de ônibus do bairro Montese, pela escassa oferta do Vila União, que  possuía apenas um ônibus, de mesmo nome, o "Vila União". Ele nem contemplava um percurso tão grande assim, fazia apenas a rota do bairro ao centro da cidade, e ainda demorava um bom tempo para percorrer o trajeto, dadas as inúmeras voltas que realizava no interior do bairro. Mas com o tempo me acostumei, e peguei as manhas dos horários, de como fazer para pegar o ônibus com menor lotação. Lembro em 2003, quando fazia cursinho a noite no Farias Brito, e vez por outra voltava andando para casa após a aula (a Clarissa voltou comigo algumas vezes), tinha um motorista que sempre me via no meio do caminho e parava para oferecer carona. Era carona mesmo, porque ele nem sequer me mandava passar pela catraca e pagar a passagem. Lembro que pouco tempo depois, ainda naquele ano, a linha ganhou dos ônibus novos com ar-condicionado. Foi aquela folia para os moradores do Vila União, que agora possuía uma das poucas linhas da cidade com ar-condicionado nos ônibus. Eram somente dois, e todos os passageiros torciam para que a sorte os contemplasse em pegar um deles em seus trajetos diversos. Lembro que logo que os ônibus começaram a circular, tinha uma senhorinha aposentada, moradora do bairro, que passava as manhãs indo e vindo para o centro só para andar no ônibus com ar condicionado. Ela não pagava passagem, e essa era uma grande (e gratuita) diversão para ela. Os motoristas e cobradores já a conheciam, e sempre recebiam-na com um sorriso. Por onze anos tomei esse ônibus, para ir ao colégio, depois para ir ao Centro de Humanidades da UECE (de vez em quando, com muita insistência a Marianna pegava ele comigo, mas geralmente ela preferia o Expedicionários), e posteriormente para ir ao trabalho. Para ir ao centro da cidade (o fim da linha), ou mesmo para pegar outro ônibus para ir para qualquer outro lugar (algo comum até alguns anos atrás, pois como disse não havia outras linhas no bairro). Hoje tive a triste notícia que devido a algumas reviravoltas no sistema de licitações no transporte urbano de Fortaleza, a empresa encarregada da linha perdeu a concessão para operar na cidade. A São José de Ribamar é empresa modesta frente às gigantes que fazem o transporte urbano na cidade, mas é conhecida na cidade como uma das que melhor trata seus funcionários e os usuários. Sempre em épocas de greve de ônibus na cidade (como agora Fortaleza está vivenciando) os motoristas elogiavam a relação que tinham com seus empregadores, diferente de muitos de seus colegas. Quando li a notícia hoje me vieram à cabeça todos esses onze anos de trajetos percorridos nesse ônibus. A linha irá continuar a funcionar, mas com outra empresa, outros motoristas e outros cobradores. A empresa deve parar de circular no início do mês de julho, e fiquei realmente triste em não poder estar lá em Fortaleza para pegar o Vila União da São José de Ribamar uma última vez (se bem que eu seria capaz de passar o dia rodando nele só para matar a saudade). E mais triste ainda por seus 300 funcionários que irão perder o emprego sem perspectiva de indenização imediata, pois e empresa tinha planos de fechamento apenas para o ano de 2013. E ainda mais, o fechamento desta e de outras empresas só corrobora para o aumento do monopólio no controle dos transportes urbanos de Fortaleza nas mãos de poucas (e grandes) empresas, o que coloca toda a população a mercê de seus interesses particulares. No dia primeiro de julho vou me despedir à distância e com muito pesar de minha linha camarada do Vila União, e esperar com muito receio essa nova era do transporte urbano na cidade.

*Texto escrito em 20 de junho de 2012

Saudades de Oh linda!

Vou sentir falta de muitas coisas em Olinda. Dos meus vizinhos, que meio que me adotaram nesses três meses de convivência, D. Jesus, D. Luciana, D. Neide, Pollyana, Ismael e do João, que não podia ver a porta da minha casa aberta que corria e se entocava logo, querendo conversar, apertar todos os botões do computador ou simplesmente rodar na minha cadeira. De andar sem rumo pelas ruas do sítio histórico quando estava enfadado de ficar na frente do computador escrevendo. Dos sanduíches do Sargação, que eram meu quebra-galho altas horas da noite, quando estava com fome, e não tinha mais nada aberto pelas ruas. De comprar pão na padaria O Globo, o que era bem caro mesmo, mas o pessoal de lá é super gente boa. Do cuscuz com frango, queijo e bacon do Café do Carmo. Do almoço feito pela dona Zenaide, que por uma pena descobri só em minha última semana por aqui. Não posso deixar de falar também do Seu Luiz (Gonzaga), que era quem entregava o almoço pra mim todo dia. E das rápidas conversas que tínhamos durante as entregas, que me traziam lembranças muito boas do meu avô. Vou sentir falta até do Rio Doce/CDU e do seu incrível potencial de socialização entre as pessoas, que gastam um bom pedaço do seu dia (ou noite) no ir e vir de/para casa, e acabam trocando uma idéia. Conheci boas pessoas nesse percurso. Não falem mal do ônibus (menos nos horários de pico :P). Vou sentir falta das pessoas pelas ruas, que são solícitas, conversam com você, e até abrem a porta de suas casas para um estranho. Não posso deixar de dizer o quanto vou sentir falta do meu cafofo, que era bem pequeno mesmo, mas era bem agradável, e foi por morar nele que tive acesso a tudo isso aí.
*Morei em Olinda do dia 11 de março ao dia 17 de junho de 2012. E foi realmente um período muito feliz da minha vida...
**Texto escrito em 20 de junho de 2012
 


Vai começar a maratona de textos antigos...

Agora que o mestrado já passou, tem uma "ruma" de textos antigos, dos causos e presepadas de Olinda/Recife na ponta da agulha para serem publicados...