No dia 25 de março de 2001, um
domingo, mudávamos de nossa casa na Rua Eduardo Angelim 388 - Montese, onde
passara 17 anos (e a maior parte da minha vida), para um novo endereço na Rua
Professor Vicente Silveira 755 - Vila União. Nova casa, nova vizinhança, um
novo trajeto de ir e vir para todos os cantos possíveis da cidade. Eis que
troquei a bem servida rota de ônibus do bairro Montese, pela escassa oferta do
Vila União, que possuía apenas um
ônibus, de mesmo nome, o "Vila União". Ele nem contemplava um percurso
tão grande assim, fazia apenas a rota do bairro ao centro da cidade, e ainda
demorava um bom tempo para percorrer o trajeto, dadas as inúmeras voltas que realizava
no interior do bairro. Mas com o tempo me acostumei, e peguei as manhas dos
horários, de como fazer para pegar o ônibus com menor lotação. Lembro em 2003,
quando fazia cursinho a noite no Farias Brito, e vez por outra voltava andando
para casa após a aula (a Clarissa voltou comigo algumas vezes), tinha um
motorista que sempre me via no meio do caminho e parava para oferecer carona.
Era carona mesmo, porque ele nem sequer me mandava passar pela catraca e pagar
a passagem. Lembro que pouco tempo depois, ainda naquele ano, a linha ganhou
dos ônibus novos com ar-condicionado. Foi aquela folia para os moradores do
Vila União, que agora possuía uma das poucas linhas da cidade com
ar-condicionado nos ônibus. Eram somente dois, e todos os passageiros torciam
para que a sorte os contemplasse em pegar um deles em seus trajetos diversos.
Lembro que logo que os ônibus começaram a circular, tinha uma senhorinha
aposentada, moradora do bairro, que passava as manhãs indo e vindo para o
centro só para andar no ônibus com ar condicionado. Ela não pagava passagem, e
essa era uma grande (e gratuita) diversão para ela. Os motoristas e cobradores
já a conheciam, e sempre recebiam-na com um sorriso. Por onze anos tomei esse
ônibus, para ir ao colégio, depois para ir ao Centro de Humanidades da UECE (de
vez em quando, com muita insistência a Marianna pegava ele comigo, mas
geralmente ela preferia o Expedicionários), e posteriormente para ir ao
trabalho. Para ir ao centro da cidade (o fim da linha), ou mesmo para pegar
outro ônibus para ir para qualquer outro lugar (algo comum até alguns anos
atrás, pois como disse não havia outras linhas no bairro). Hoje tive a triste
notícia que devido a algumas reviravoltas no sistema de licitações no
transporte urbano de Fortaleza, a empresa encarregada da linha perdeu a
concessão para operar na cidade. A São José de Ribamar é empresa modesta frente
às gigantes que fazem o transporte urbano na cidade, mas é conhecida na cidade
como uma das que melhor trata seus funcionários e os usuários. Sempre em épocas
de greve de ônibus na cidade (como agora Fortaleza está vivenciando) os
motoristas elogiavam a relação que tinham com seus empregadores, diferente de
muitos de seus colegas. Quando li a notícia hoje me vieram à cabeça todos esses
onze anos de trajetos percorridos nesse ônibus. A linha irá continuar a
funcionar, mas com outra empresa, outros motoristas e outros cobradores. A
empresa deve parar de circular no início do mês de julho, e fiquei realmente
triste em não poder estar lá em Fortaleza para pegar o Vila União da São José
de Ribamar uma última vez (se bem que eu seria capaz de passar o dia rodando
nele só para matar a saudade). E mais triste ainda por seus 300 funcionários
que irão perder o emprego sem perspectiva de indenização imediata, pois e
empresa tinha planos de fechamento apenas para o ano de 2013. E ainda mais, o
fechamento desta e de outras empresas só corrobora para o aumento do monopólio
no controle dos transportes urbanos de Fortaleza nas mãos de poucas (e grandes)
empresas, o que coloca toda a população a mercê de seus interesses
particulares. No dia primeiro de julho vou me despedir à distância e com muito
pesar de minha linha camarada do Vila União, e esperar com muito receio essa
nova era do transporte urbano na cidade.
*Texto
escrito em 20 de junho de 2012