A minha última rotina de trabalho tem me
proporcionado horários de expediente um tanto quanto inusitados. Quando a
maioria da população está começando seu deslocamento diuturno rumo a seus
locais de trabalho, estou voltando para casa e terminando o meu primeiro
expediente. Quando elas estão retornando aos seus lares no final do dia, estou iniciando
o meu segundo turno de trabalho. Tenho observado desde que voltei a Fortaleza
que o trânsito da cidade está ficando cada vez mais “travado”. Já vivenciava essa
experiência quando morava em Recife/Olinda. Mas Fortaleza realmente tem me
surpreendido nos últimos meses no que diz respeito ao tráfego. Muitos carros.
Muitas motos. Muitas pessoas nos ônibus. Poucos ônibus. E o metrô... Bem acho
que isso é assunto para a Copa do Mundo (mas quem sabe mesmo, não é?!). Mas
veja só... As pessoas estão comprando mais carros... E ainda há quem queira nos
fazer acreditar que isso é realmente bom! É engraçado (na verdade é trágico)
ouvir o discurso governamental nos últimos anos falando que a economia do
Brasil está crescendo, que o brasileiro vive melhor, e que aumentou o seu poder
de consumo. É espantoso ouvir esse tipo de discurso de que a melhoria na
qualidade de vida da população está atrelada ao aumento em seu poder de compra.
E dizem até que tem uma nova classe média por aí. Realmente as pessoas estão
comprando e consumindo mais. As linhas de crédito aumentaram. É muito fácil
comprar um carro novo todo o ano, até mesmo sem um tostão no bolso. As casas da
população estão cheias de TV’s de LED (porque as de LCD já estão ultrapassadas,
não é?!). IPod’s, Iphone’s, Ipad’s... Ai pode?! Pode sim! Todo mundo pode! É só
ter um cartão de crédito. Dinheiro de plástico serve para isso mesmo. E a gente
vai pagando em suaves prestações a perder de vista. E o Brasil, hein?! Dizem por
aí que vai muito bem, obrigado. As ruas estão cheias de carros. A sala de casa
está cheia de eletrônicos. Vazia mesmo está a geladeira. Vazias mesmo estão as
salas de aula (se bem que algumas estão bem cheias porque está faltando é
professor). Ah, e têm os postos de saúde, esses sim estão bem cheios. E o
Brasil, hein?! Dizem por aí que vai muito bem, obrigado. É o maior país da
América Latina. Liderança continental. Economia lá em cima! Alguns índices
também. Vejamos alguns deles... Em 2010 o Brasil ficou em 3º lugar no ranking mundial
que mede a desigualdade social nos países (empatado com Equador, e atrás de
Bolívia e Haiti). Em 2012, o Brasil apresentou a 6ª maior taxa de mortalidade
infantil da América do Sul, com 21 mortes para cada 1000 nascimentos normais (países
como Chile, Uruguai e Argentina apresentam a metade ou menos que a metade da
taxa brasileira). Ainda em 2012 o Brasil ficou em 9º lugar na América do Sul no
que diz respeito à taxa de alfabetização, 87% da população alfabetizada,
enquanto países como Uruguai apresentam 98%, Argentina 97% e Chile 96%. E eu
bem que comecei o texto falando em engarrafamentos e em carros, não foi?! Mas o que
importa mesmo...?! Pois é. Porque o Brasil, hein?! Dizem por aí que vai muito bem,
obrigado.