Não sou um grande ouvinte, e nem um grande conhecedor da obra de Chico Buarque. Tem algumas músicas que conheço e gosto. Entre elas talvez a mais tocada aos meus ouvidos seja “Olhos nos olhos”. Quando ouço, sempre coloco para repetir uma vez mais ao menos. Ontem fiz isso enquanto preparava o jantar. Hoje novamente, entre uma clicada e outra no notebook, resolvi procurar outras interpretações da música para ouvir. Deparei-me com um trecho do DVD “Maria Bethânia, musica é perfume”. Nele, Chico Buarque fala da ocasião em que apresentou a música para Bethânia, achando que ela não havia gostado muito de início, e posteriormente se surpreendeu quando ela chegou com a música já gravada. Bethânia conta, antes de uma apresentação, sobre dia em que cantou essa música pela primeira vez para Mãe Menininha Gantois (respeitada mãe de santo baiana). Ela fala que era uma música que Mãe Menininha gostava muito, e que na primeira vez que ouviu não acreditou que ela tivesse sido composta por um homem. Dizia Mãe Menininha: “O homem no lugar do coração tem um buraco. Como é que escreveu uma coisa dessas?!” Engraçado que mesmo quando escuto o Chico Buarque cantando a canção, o fato de ser a voz um homem ali me passa batido. Sempre é uma mulher. É Mãe Menininha, é bem certo que os homens têm um buraco no peito. Mas raras, bem raras vezes tem um que tira um pouco de mistério e encanto desse aparente vazio.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
terça-feira, 14 de julho de 2020
Para que tapar o sol com a peneira?!
Tarde da noite. Eu já estava desligando o computador para ir
dormir. Enquanto dou um suspiro profundo, meu pai entra no quarto. Ele
me pergunta:
-O que foi?!
-Êêê doideira! É a internet que só tem doideira!
-E por que tu olha?!
-Porque eu sou besta!
Ele prontamente emendou a minha fala com uma afirmação:
-Tu é igual aquela menina da novela quando viu um homem nu
tomando banho.
Quando eu pergunto o porquê, ele faz um gesto
tapando os olhos com a mão e os dedos entreabertos, já respondendo:
-É desse jeito!
Caímos os dois na gargalhada. Estendi minha mão para apertar
a dele num gesto de concordância, ainda soluçando de rir.
-É isso mesmo pai!
Dessas sabedorias plenas dos pais que nos dão um tapa de realidade quando menos esperamos (e mais precisamos)...
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Preta, Pepinha
Quando
ainda nem gostava de música, aprendi a gostar de "Preta Pretinha".
Acho que é a minha memória musical mais antiga. Ela era uma faixa recorrente no
toca-fitas do Chevette 1978 do meu pai durante a minha infância. Lá pelos meus
4-5 anos meu pai me apresentou a canção dizendo que era a música da nossa
cadela, a Peposa (apelidada de Pepa). Quando o refrão tocava no carro ele substituía
o "Preta, pretinha", por "Pepa, pepinha". E nos meus
ouvidos de criança, era isso mesmo o que eu escutava! Passei os primeiros
anos da minha infância achando que a música tinha sido feita para a Pepinha,
tal qual meu pai havia me apresentado. A letra é do Galvão, mas o arranjo e a
interpretação que a popularizaram foram do Moraes Moreira. Em 2012, tive a
oportunidade de assistir o Moraes contando a canção em Recife (durante o
Coquetel Molotov), num show onde tocou na íntegra o repertório do disco Acabou
Chorare. Não tinha ingresso para o show, e consegui entrar no teatro da UFPE
graças a uma pulseira vip compartilhada com uma amiga (que depois serviu para
colocar mais umas 3 pessoas para dentro). Tinha conhecido o disco no ano
anterior, ao assistir o documentário "Filhos de João", sobre a
história dos Novos Baianos, no Festival MINO (em Olinda). No perambular com os
amigos pelas ladeiras de Olinda, nos deparamos com a exibição do filme ao ar
livre. Assistimos sentados numa calçada e amontoados uns nos outros. As minhas
memórias da infância se conectaram com a experiência da vida adulta. A
"Preta, pretinha", que descobri no Chevette 1978 do meu pai passou a
ser presença constante no meu notebook, no som em casa, no som do carro, nos
percursos das minhas viagens entre o sertão e o litoral (ainda que num
pendrive). Ano passado consegui comprar o CD Acabou Chorare durante uma
garimpada em uma viagem. Lá de trás para cá se tornou um dos meus discos
favoritos. Hoje tive a triste notícia do falecimento do Moraes Moreira, aos 72
anos. Muita vida, muita música, muitas memórias! Mas tenho certeza que daqui
para frente a "Preta, pretinha" ainda vai tocar muito aos meus
ouvidos e nas minhas lembranças.
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Dois e uma cadela vira-latas
Por aqui somos dois homens e uma cadela vira-latas
Ou seriam um homem e um menino?
Mas quem é o homem, e quem é o menino?
A única certeza é da vira-latas
Não há dúvidas de quem ela é!
Está bem certa disso.
Por aqui somos um homem, um menino e uma cadela vira-latas
Esperando a hora de sermos dois homens novamente
Na confiança do apoio um do outro
Para encostar a cabeça e descansar
Mas o café já está frio na mesa
Será que é de tanto esperar
Que sejamos homem ou menino?
Sejamos então homens e meninos
E a vira-latas a nos acompanhar
quinta-feira, 26 de março de 2020
Amigo é casa
Esses últimos
meses tenho me reconectado com os prazeres dos encontros amigos. Já fazia algum tempo que minhas idas para Fortaleza estavam sendo quase todas para resolver
problemas, consultas médicas ou para demandas familiares. Acho que, nos últimos
2 anos, poucas foram as vezes em que pude encontrar meus amigos na cidade durante esses
percursos. Estive voltando aos poucos para Fortaleza desde dezembro. Festas de
fim de ano; férias; início das aulas no Doutorado; recomeço das atividades do
trabalho em Sousa; idas e vindas; despedidas e reencontros com a minha casa;
afastamento do trabalho; procura por moradia em Fortaleza; um recente e
imprevisto retomo para Sousa. Em meio a todos esses trajetos, pude ir experimentando
alguns encontros ímpares que me alimentaram grande alegria e satisfação. Uma
ida à praia combinada meio às pressas com velhos amigos, rir de velhos causos,
e perceber que ninguém ali ia à praia ou se encontrava já fazia muito tempo. O amigo dos tempos de
graduação reencontrado na mesma turma no início das aulas, e a oportunidade e
rir e lembrar de histórias e figuras do nosso passado/presente estudantil! O
convite para o aniversário do velho amigo em que, depois de muitos convites
feitos em anos anteriores, finalmente pude materializar minha presença e
reencontrar várias figuras ímpares que há muito não via (muito obrigado por
permanecer me convidando esses anos)! Os amigos do colégio que se veem em um
churrasco de última hora cercado das velhas teimas, histórias antigas de
presepadas, vira-latas e uma filhinha que eu ainda não conhecia! Um café
acolhedor na casa da amiga/comadre num convite rápido e descomplicado, e a alegria de
me atualizar sobre vida dela e de minha afilhada. Um pulo (não literal) no carnaval do Benfica,
que é sempre uma oportunidade para encontrar muita gente, e uma amiga da faculdade que há
muito não via (que esteve em pé na minha frente por muito tempo até
que nos reconhecêssemos simultaneamente), os amigos dos tempos de escola e de outros carnavais, a amiga da antiga vizinhança. Um encontro marcado com a turma da
faculdade e que precisou ser cancelado, mas que trouxe de volta mais para perto uma amiga
querida (mesmo que na distância de uma tela e algumas teclas),
e as conversas (e algumas preocupações em comum) que vamos tendo até que esse
encontro físico se concretize. A amiga de longa data que ainda não pode ser encontrada, que uma visita nos aguarde em breve para dar aquele abraço apertado, algumas gargalhadas, e entregar o livro de dinossauros para sua filhinha. A amiga que escuta um desabafo longo e angustiado ao telefone, e que sempre tem espaço para acolher as prosas e os sentimentos leves e os mais pesados. Tantos amigos e amigas que sempre encontro quando chego em Sousa, que me fizeram criar vínculos e raízes por aqui, e sempre me sentir em casa em suas companhias. Felizmente muitos encontros nesses percursos!
Novas histórias para guardar. E quem sabe, daqui há algum tempo, na firmeza
desses reencontros, nos encontraremos outras tantas vezes para relembrar e contar essas histórias!
Amigo é feito casa que se faz aos
poucos
e com paciência pra durar pra
sempre.
O
título tomei emprestado da canção "Amigo é casa", de Capiba e Herminio
Bello de Carvalho. A interpretação é da maravilhosa Zélia Duncan, por quem
conheci a música, que deu nome a um disco
gravado em parceria com a Simone.
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