quinta-feira, 26 de março de 2020

Amigo é casa


Esses últimos meses tenho me reconectado com os prazeres dos encontros amigos. Já fazia algum tempo que minhas idas para Fortaleza estavam sendo quase todas para resolver problemas, consultas médicas ou para demandas familiares. Acho que, nos últimos 2 anos, poucas foram as vezes em que pude encontrar meus amigos na cidade durante esses percursos. Estive voltando aos poucos para Fortaleza desde dezembro. Festas de fim de ano; férias; início das aulas no Doutorado; recomeço das atividades do trabalho em Sousa; idas e vindas; despedidas e reencontros com a minha casa; afastamento do trabalho; procura por moradia em Fortaleza; um recente e imprevisto retomo para Sousa. Em meio a todos esses trajetos, pude ir experimentando alguns encontros ímpares que me alimentaram grande alegria e satisfação. Uma ida à praia combinada meio às pressas com velhos amigos, rir de velhos causos, e perceber que ninguém ali ia à praia ou se encontrava já fazia muito tempo. O amigo dos tempos de graduação reencontrado na mesma turma no início das aulas, e a oportunidade e rir e lembrar de histórias e figuras do nosso passado/presente estudantil! O convite para o aniversário do velho amigo em que, depois de muitos convites feitos em anos anteriores, finalmente pude materializar minha presença e reencontrar várias figuras ímpares que há muito não via (muito obrigado por permanecer me convidando esses anos)! Os amigos do colégio que se veem em um churrasco de última hora cercado das velhas teimas, histórias antigas de presepadas, vira-latas e uma filhinha que eu ainda não conhecia! Um café acolhedor na casa da amiga/comadre num convite rápido e descomplicado, e a alegria de me atualizar sobre vida dela e de minha afilhada.  Um pulo (não literal) no carnaval do Benfica, que é sempre uma oportunidade para encontrar muita gente, e uma amiga da faculdade que há muito não via (que esteve em pé na minha frente por muito tempo até que nos reconhecêssemos simultaneamente), os amigos dos tempos de escola e de outros carnavais, a amiga da antiga vizinhança. Um encontro marcado com a turma da faculdade e que precisou ser cancelado, mas que trouxe de volta mais para perto uma amiga querida (mesmo que na distância de uma tela e algumas teclas), e as conversas (e algumas preocupações em comum) que vamos tendo até que esse encontro físico se concretize. A amiga de longa data que ainda não pode ser encontrada, que uma visita nos aguarde em breve para dar aquele abraço apertado, algumas gargalhadas, e entregar o livro de dinossauros para sua filhinha. A amiga que escuta um desabafo longo e angustiado ao telefone, e que sempre tem espaço para acolher as prosas e os sentimentos leves e os mais pesados. Tantos amigos e amigas que sempre encontro quando chego em Sousa, que me fizeram criar vínculos e raízes por aqui, e sempre me sentir em casa em suas companhias. Felizmente muitos encontros nesses percursos! Novas histórias para guardar. E quem sabe, daqui há algum tempo, na firmeza desses reencontros, nos encontraremos outras tantas vezes para relembrar e contar essas histórias!

Amigo é feito casa que se faz aos poucos  
e com paciência pra durar pra sempre.


O título tomei emprestado da canção "Amigo é casa", de Capiba e Herminio Bello de Carvalho. A interpretação é da maravilhosa Zélia Duncan, por quem conheci a música,  que deu nome a um disco gravado em parceria com a Simone.

Não tem glamour na quarentena II!


Não tem quarentena quando o morador de rua ainda precisa ficar sentado na calçada (sua "casa"), em cima de um cobertor, dividindo uma marmita às 18h (possivelmente, ainda seu almoço) com seus dois cachorros vira-latas. A reclusão é desagradável para uns, mas para outros, a exclusão é desumana faz tempo...  

Não tem glamour ba quarentena I!

   

            Sei que tem muita gente esbanjando criatividade e utilizando as redes sociais para dar boas dicas de como se virar bem durante esse período de reclusão involuntária. Massa demais!!!
            Agora, vem uma galera querendo glamourizar a quarentena, aí é foda! Não tem glamour se você está em uma residência de poucos metros quadrados com uma ruma de gente. Não tem glamour se você não tem abastecimento de água corrente em casa. Não tem glamour se você não tem internet em casa para assistir essa ruma de filmes e séries que a turma fica indicando. Não tem glamour se você está em casa com um paciente psiquiátrico que, por conta da reclusão tem disparadas suas crises. Não tem glamour se na sua casa tem dependentes químicos ou alcoólatras. Não tem glamour se você não tem dinheiro nem para comprar o básico da semana, quanto mais alimentos em quantidade para estocar. Não tem glamour se você tem pessoas em casa que ficam querendo furar a quarentena o tempo todo. Não tem glamour se você está cuidando sozinho de um idoso acamado. Não tem glamour se você não tem álcool em gel, máscaras, luvas e essa coisa toda.
            Então galera, ao invés de ficar só mostrando como a sua quarentena é legal e descolada, dá uma ligada (é, uma ligação mesmo, se possível) para o seu amiguinho ou familiar que você sabe que está passando por uma situação como essas e pergunta se está tudo bem, se está precisando de alguma coisa. E se depois disso você ainda quiser ficar mostrando a sua quarentena legal, não tem problema, segue em frente e dê boas dicas para a galera!


*Texto publicado anteriormente no Facebook em 23 de março de 2020. O contexto é o da pandemia do COVID-19 que assola o mundo nesse momento, fazendo com que populações de diversos países estejam entrando em quarentena para evitar os riscos de contaminação. Milhares de pessoas estão morrendo. Os chefes de estado e autoridades médicas numa encruzilhada tentando salvar as vidas das populações (alguns querem salvar primeiro a economia, como no caso presidente Bolsonaro no Brasil).

sexta-feira, 20 de março de 2020

Distânciavontade


É aquele beijo que vai ter que esperar um pouco mais para encontrar a boca alheia
E o afago é sentido na memória do dia em que chegou pela última vez
O som da voz soando pelo pequeno alto-falante
Mas que toca um conforto suave aos ouvidos
Uma foto agora para me mostrar que está tudo bem
E por aqui...
Também...
A espera transborda os movimentos dos ponteiros do relógio
E a distância da tela já não parece mais aproximar
Histórias que chegam daqui e de lá
Contam um pouco do que não se pode agora sentir de perto
E a vontade....
Da distância
De sentir
À vontade.